DEUS FAZ TUDO ACONTECER

DEUS FAZ TUDO ACONTECER

Por R. C. Sproul

Artigo adaptado do livro “Deus controla tudo?”, de R. C. Sproul — série Questões Cruciais.

Como vimos no capítulo anterior, um dos conceitos predominantes na cultura ocidental, nas duas últimas décadas, é o de que vivemos em um universo mecânico e fechado. A teoria é que tudo opera de acordo com leis físicas naturais, e que não há possibilidade para intromissão de fora. Portanto, o universo é como uma máquina que funciona por suas próprias maquinações.

No entanto, até aqueles que introduziram este conceito lá no século XVII, ainda postulavam a ideia de que Deus construiu a máquina em primeiro lugar. Sendo pensadores e cientistas inteligentes, eles não puderam escapar da necessidade de um Criador. Reconheceram que não haveria nenhum mundo para eles observarem, se não houvesse uma causa suprema para todas as coisas. Embora a ideia de um Governante providencial e envolvido nos afazeres da vida diária tenha sido questionada e desafiada, ainda era admitido, implicitamente, que tinha de existir um Criador acima e além da ordem criada.

No conceito clássico, a providência de Deus estava intimamente ligada ao seu papel como Criador do universo. Ninguém acreditava que Deus, simplesmente, criou o universo e, depois, virou as costas e perdeu o contato com ele, ou que Deus sentou de volta em seu trono, no céu, e ficou apenas contemplando o universo agir por seu próprio mecanismo, recusando-se, ele mesmo, a envolver-se nos afazeres do universo. Pelo contrário, a noção cristã clássica era a de que Deus é tanto a causa primária do universo quanto a causa primária de tudo o que acontece no universo.

Um dos princípios fundamentais da teologia cristã é que nada neste mundo tem poder causal intrínseco. Nada tem nenhum poder, exceto o poder com que está investido – ou que lhe foi emprestado, se você assim entende – ou que age por seu intermédio, que é, em última análise, o poder de Deus. Essa é a razão por que teólogos e filósofos têm feito, historicamente, uma distinção entre causalidade primária e causalidade secundária.

Deus é a fonte de causalidade primária. Em outras palavras, ele é a causa primeira. É o Autor de tudo que existe e continua a ser a causa primária dos eventos humanos e das ocorrências naturais. Contudo, a causalidade primária de Deus não exclui causas secundárias. Sim, quando a chuva cai, a grama fica molhada, não porque Deus faz a grama ficar molhada direta e imediatamente, e sim porque a chuva aplica umidade à grama. Mas a chuva não poderia cair sem o poder de Deus, que permanece acima e sobre toda atividade causal secundária. No entanto, o homem moderno diz, imediatamente: “A grama fica molhada porque a chuva cai”, e não olha para além disso, para uma causa suprema, mais elevada. As pessoas do século XXI parecem pensar que podemos viver bem apenas com as causas secundárias, não dando nenhum pensamento à causa primária.

Neste caso, o conceito básico é que tudo aquilo que Deus cria, ele sustenta. Em termos simples, esta é a ideia cristã clássica, de que Deus não é o grande Relojoeiro que faz o relógio, lhe dá corda e se afasta do cenário. Em vez disso, o que Deus faz, ele mesmo preserva e sustenta.

Na verdade, vemos isto no começo da Bíblia. Gênesis 1.1 diz: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. A palavra hebraica, traduzida por “criou”, é uma forma do verbo bãrã, que significa “criar, fazer”. Esta palavra traz, em si mesma, a ideia de sustentar. Gosto de ilustrar esta ideia por mencionar a diferença, na música, entre uma nota staccato e uma nota sustentada. Uma nota staccato é uma nota breve e quebrada: “Lá lá lá lá lá”. Uma nota sustentada é uma nota segurada: “Laaaa”. De modo semelhante, a palavra bãrã nos diz que Deus não somente trouxe o mundo à existência, em um momento. Ela indica que ele continua a fazê-lo, por assim dizer. Deus está segurando o mundo, mantendo-o e sustentando-o.

O autor do ser.

Um dos conceitos teológicos mais profundos é que Deus é o Autor do ser. Não poderíamos existir à parte de um Ser supremo, porque não temos o poder de ser em e por nós mesmos. Se qualquer ateísta pensasse séria e logicamente sobre o conceito de ser, por cinco minutos, isso seria o fim de seu ateísmo. Um fato inevitável é que ninguém neste mundo tem, em si mesmo, o poder de ser e que, apesar disso, estamos aqui. Portanto, de fato, deve haver Alguém que tem, em si mesmo, o poder de ser. Se não houvesse tal Ser, seria absoluta e cientificamente impossível que alguma coisa existisse. Se não houvesse nenhum ser supremo, não poderia existir nenhum tipo de ser. Se algo existe, tem de haver algo que tem o poder de ser; do contrário, nada existiria. É simples assim.

Quando o apóstolo Paulo falou aos filósofos no Areópago, em Atenas, ele mencionou que tinha visto muitos altares na cidade, incluindo um altar ao “AO DEUS DESCONHECIDO” (At 17.23). Em seguida, Paulo usou isso como abertura, para comunicar-lhes a verdade bíblica: “Esse que adorais sem conhecer é, precisamente, aquele que eu vos anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe… ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais… pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (vv. 23b-28a). Paulo disse que tudo o que Deus cria é totalmente dependente do poder de Deus, não somente quanto à sua origem, mas também quanto à continuidade de sua existência.

Às vezes, sou impaciente com algumas das liberdades poéticas que os escritores de hinos usam. Um hino famoso inclui esta linha: “Amor admirável! Como pode ser que tu, meu Deus, morreste por mim?” Sim, em determinada maneira de falar, Deus morreu na cruz. O Deus-homem, Aquele que era Deus encarnado, morreu por seu povo. Mas a natureza divina não morreu no Calvário. O que aconteceria ao universo, se Deus morresse? Se Deus cessasse de existir, o universo pereceria com ele, porque não somente criou todas as coisas, ele sustenta todas as coisas. Somos dependentes dele, não somente quanto à nossa origem, mas também quanto à continuação de nossa existência. Visto que não temos o poder de ser em e por nós mesmos, não podemos subsistir, nem por um segundo, sem o poder sustentador de Deus. Isso é parte da providência de Deus.

Esta ideia de que Deus sustenta o mundo – o mundo que ele fez e observa em detalhes íntimos – nos leva ao âmago do conceito de providência, que é o ensino de que Deus governa sua criação. Este ensino tem muitos aspectos, mas quero focalizar-me em três, no restante deste capítulo – as verdades de que o governo de Deus, em todas as coisas, é permanente, soberano e absoluto.

Um governo permanente.

A cada quatro anos, temos uma mudança de governo nos Estados Unidos, quando uma nova administração presidencial assume. A Constituição limita o número de anos em que um presidente pode servir como o principal executivo dos Estados Unidos. Então, por padrões humanos, os governos vão e vêm. Toda vez que um presidente assume o seu cargo, os meios de comunicação mencionam o “período de lua de mel”, aquele tempo em que o novo líder é visto com favor, é recebido calorosamente, e assim por diante. Mas, à medida que as pessoas ficam mais e mais irritadas ou desapontadas com as suas políticas, a sua popularidade cai. Logo vemos alguns sábios expressarem a opinião de que precisamos expulsar o “vagabundo” do seu cargo. Em outros países, essa insatisfação tem resultado, ocasionalmente, em revolução armada, causando a deposição violenta de presidentes e primeiros-ministros. Em todo caso, nenhum governante humano detém o poder para sempre.

No entanto, Deus está sentado como Governante supremo do céu e da terra. Ele tem de tolerar pessoas que são desencantadas com seu governo, se opõem às suas políticas e resistem à sua autoridade. Mas, ainda que a própria existência de Deus possa ser negada, sua autoridade possa ser resistida e suas leis, desobedecidas, seu governo providencial nunca pode ser deposto.

O Salmo 2 nos dá uma figura vívida do reino inabalável de Deus. O salmista escreveu: “Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas” (vv. 1-3). A imagem aqui é a de um encontro de cúpula dos poderosos governantes deste mundo. Eles se reúnem para formar uma coalizão, um tipo de eixo militar, a fim de planejarem a deposição da autoridade divina. É como se estivessem planejando lançar seus mísseis nucleares contra o trono de Deus, para expulsá-lo do céu. O alvo deles é livrarem-se da autoridade divina, romperem os “laços” e as “algemas” com as quais Deus os prende. Mas a conspiração não é apenas contra “o SENHOR”, é também contra o “seu Ungido”. Aqui, a palavra hebraica é mãšîah, da qual temos a nossa palavra Messias. Deus, o Pai, exaltou seu Filho como cabeça sobre todas as coisas, com o direito de reger os governantes deste mundo. Aqueles que estão investidos de autoridade terrena estão se aconselhando juntos, para planejarem como livrar o universo da autoridade de Deus e de seu Filho.

Qual é reação de Deus a esta conspiração terrena? O salmista disse: “Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles” (v. 4). Os reis da terra se colocam em oposição contra Deus. Concordam com pactos e tratados solenes e encorajam uns aos outros a não vacilarem, em sua resolução de depor o Rei do universo. Mas, quando Deus olha para todos esses poderes reunidos, ele não treme de medo. Deus ri, mas não o riso de satisfação. O salmista descreveu o riso de Deus como o riso de desprezo. É o riso que um rei poderoso expressa, quando mantém seus inimigos em desprezo.

No entanto, Deus não apenas ri: “Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá. Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião” (vv. 5-6). Deus repreenderá as nações rebeldes e afirmará o Rei que ele constituiu em Sião.

Frequentemente, admiro-me da diferença entre a ênfase que acho na Escritura Sagrada e a ênfase que leio nas páginas de revistas religiosas, e que ouço nos púlpitos de nossas igrejas. Temos uma imagem de Deus como alguém cheio de benevolência. Nós o vemos como um criado celestial, que podemos chamar quando precisamos de serviços domésticos, ou como um Papai Noel cósmico que está pronto a nos encher de presentes. Ele tem prazer em fazer o que lhe pedimos. Enquanto isso, Deus nos exorta, afavelmente, que mudemos nossos caminhos e nos acheguemos ao seu Filho, Jesus. Geralmente, não ouvimos sobre um Deus que ordena obediência, que afirma a sua autoridade sobre o universo e insiste em que nos sujeitemos ao seu Messias ungido. Contudo, nas Escrituras, nunca vemos um Deus que convida pessoas a virem a Jesus. Ele ordena que nos arrependamos e nos convençamos de nossa traição em nível cósmico, quer escolhamos fazer isso, quer não. Uma recusa em submeter-se à autoridade de Cristo, talvez não coloque alguém em dificuldades com a igreja ou com o governo, mas certamente criará um problema com Deus.

No discurso no cenáculo (Jo 13-17), Jesus disse aos seus discípulos que estava partindo, mas prometeu que enviaria outro Consolador (14.16), o Espírito Santo. Ele disse: “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (16.8). Quando Jesus falou que o Espírito Santo viria para convencer o mundo do pecado, ele foi bem específico quanto ao pecado que tinha em mente. Ele disse que o Espírito traria convicção “do pecado, porque não creem em mim” (Jo 16.9). Da perspectiva de Deus, a recusa em submeter-se ao senhorio de Cristo não se deve apenas a uma falta de convicção ou a uma falta de informação. Deus considera tal recusa como uma falha em aceitar o Filho de Deus como o que ele realmente é.

Paulo ecoou esta ideia no Areópago, quando disse: “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam” (At 17.30). Deus tem sido paciente, disse Paulo, mas agora ordena (“notifica”) a todos que se arrependam e creiam em Cristo. Raramente ouvimos esta ideia em livros ou no púlpito, a ideia de que é nosso dever submeter-nos a Cristo. Mas, embora não a ouçamos, ela não é uma opção para Deus.

Em palavras simples, Deus reina supremamente sobre o seu universo, e o seu reino nunca terminará.

Um governo soberano.

Vivemos em uma democracia, por isso é difícil entendermos a ideia de soberania. Nosso acordo social declara que ninguém pode governar em nosso país, exceto pelo consentimento dos governados. Mas Deus não precisa de nosso consentimento para governar. Ele nos fez e, por essa razão, tem o direito intrínseco de nos governar.

Na Idade Média, os monarcas da Europa procuravam fundamentar sua autoridade no chamado “direito divino dos reis”. Eles declaravam que tinham um direito dado por Deus para governar sobre os seus compatriotas. Na verdade, somente Deus tem esse direito.

Na Inglaterra, o poder dos monarcas, que já foi muito grande, agora é limitado. A Inglaterra é uma monarquia constitucional. A rainha goza de toda a pompa e circunstâncias da realeza, mas o Parlamento e o primeiro-ministro regem a nação, e não o Palácio de Buckingham. A rainha reina, mas não governa.

Por contraste, o Rei bíblico tanto reina como governa. E realiza o seu governo, não por meio de um referendo, e sim de sua soberania pessoal.

Um governo absoluto.

O governo de Deus é uma monarquia absoluta. Nenhuma restrição exterior lhe é imposta. Ele não tem de respeitar um equilíbrio de poderes com o Congresso e a Suprema Corte. Deus é o Presidente, o Senado, a Câmara de Deputados e a Suprema Corte, todos entretecidos em um só, porque ele está investido da autoridade de um monarca absoluto.

A história do Antigo Testamento é a história do reino de Jeová sobre o seu povo. O tema central do Novo Testamento é a realização, na terra, do reino de Deus, através do Messias, a quem Deus exalta à destra de autoridade, e coroa como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Ele é o Rei supremo, Aquele a quem devemos lealdade e obediência total.

Uma das grandes ironias da história é esta: quando Jesus, que era o Rei cósmico, nasceu em Belém, o mundo era governado por um homem chamado César Augusto. Falando em termos corretos, a palavra augusto é apropriada somente para Deus. Ela significa “de dignidade ou grandeza suprema; majestoso, venerável, eminente”. Deus é o cumprimento superlativo de todos estes termos, porque o Senhor Deus onipotente reina.

FONTE: MinistérioFIEL

SOLI DEO GLORIA

SOLI DEO GLORIA

(SOMENTE A DEUS A GLORIA)

Por John Piper

Usamos a frase glória de Deus com tanta frequência que ela tende a perder sua força bíblica. Mas essa glória, como o sol, não é menos ardente – e não menos benéfica – porque as pessoas a ignoram. No entanto, Deus odeia ser ignorado. “Considerai, pois, nisto, vós que vos esqueceis de Deus, para que não vos despedace, sem haver quem vos livre”. (Salmo 50:22). Então, vamos nos concentrar novamente na glória de Deus. O que é a glória de Deus e quão importante ela é?

O que é a glória de Deus?

A glória de Deus é a santidade de Deus colocada em exposição. Isto é, o valor infinito de Deus manifestado. Perceba como Isaías muda de “santo” para “glória”: “E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Isaías 6:3). Quando a santidade de Deus enche a terra para que as pessoas vejam, ela chama-se glória.

O significado básico de santo é “separado do comum”. Assim sendo, a santidade de Deus é a sua infinita “separação” de tudo o que é comum. É isso que o faz ser o único infinito – como o diamante mais raro e mais perfeito do mundo – só que não existem outros deuses-diamantes. A singularidade de Deus como sendo o único Deus – Sua “Divindade” – o faz infinitamente valioso e santo.

Ao falar da glória de Deus, a Bíblia admite que este valor infinito teve sua entrada na criação. Brilhou, assim como era. A glória de Deus é o resplendor da sua santidade, a irradiação do seu valor infinito. E quando ela flui, é vista como bela e grandiosa. Ela tem tanto a qualidade de ser infinita quanto a magnitude. Desta forma, podemos definir a glória de Deus como a beleza e a grandeza da sua multiforme perfeição.

Digo “multiforme perfeição”, porque a Bíblia diz que aspectos específicos do ser de Deus contêm glória. Por exemplo, lemos sobre a “gloriosa graça” (Efésios 1:6) e “a glória do seu poder” (2 Tessalonicenses 1:9). O próprio Deus é glorioso, pois ele é a perfeita união de todas as suas multiformes e gloriosas perfeições.

Mas esta definição deve ser qualificada. A Bíblia também fala da glória de Deus antes de ser revelada na criação. Por exemplo, Jesus orou: “e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (João 17:5). Portanto, quero sugerir a seguinte definição: A glória de Deus é o esplendor externo da beleza intrínseca e grandeza da sua multiforme perfeição.

Estou ciente de que palavras apontam para uma definição muito pobre. Eu substituí uma palavra inadequada-glória-por duas palavras inadequadas – beleza e grandeza. No entanto, Deus se revelou a nós em palavras como “a glória de Deus”. Portanto, elas não são palavras sem sentido.

Devemos constantemente nos lembrar de que estamos falando de uma glória que está além de qualquer comparação na criação. “A glória de Deus” é como designamos a beleza e a grandeza infinita da Pessoa que existia antes de qualquer coisa. Essa beleza e grandeza existem sem origem, sem comparação, sem analogia, sem serem julgadas por qualquer critério externo. A glória de Deus é definitiva, o padrão absolutamente original de grandeza e beleza. Toda a grandeza e beleza criadas vêm dela e aponta para ela, mas não podem reproduzi-la de forma adequada e em sua abrangência.

“A glória de Deus” é uma forma de dizer que há uma realidade objetiva e absoluta para a qual apontam todas as maravilhas, respeito, veneração, louvor, honra, elogio e adoração dos seres humanos. Nós fomos feitos para encontrar o nosso mais profundo prazer em admirar o infinitamente admirável – a glória de Deus. Essa glória não é a projeção psicológica do desejo humano insatisfeito sobre a realidade. Pelo contrário, o desejo inconsolável do ser humano é a evidência de que fomos feitos para a glória de Deus.

Quão central é a glória de Deus?

A glória de Deus é o objetivo de todas as coisas (1 Coríntios 10:31;Isaías 43:6-7). A grande missão da Igreja é declarar a glória de Deus entre as nações. “Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos, as suas maravilhas”. (Salmo 96:1-3; Ezequiel 39:21; Isaías 66:18-19).

Qual é a nossa esperança?

Nossa máxima esperança é ver a glória de Deus. “E gloriamo-nos na esperança da glória de Deus” (Romanos 5:2). Deus irá “vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória” (Judas 24). Ele irá “conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão” (Romanos 9:23). Jesus, em toda a sua pessoa e obra, é a encarnação e revelação máxima da glória de Deus (João 17:24; Hebreus 1:3).

Além disso, não somente veremos a glória de Deus, mas também teremos participação, em algum sentido, em sua glória. “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda coparticipante da glória que há de ser revelada” (1 Pedro 5:1). “Aos que justificou, a esses também glorificou” (Romanos 8:30). A esperança que é verdadeiramente conhecida e estimada tem um efeito decisivo sobre os nossos valores, escolhas e ações hoje.

Valorizando a Glória de Deus

Conheça a glória de Deus. Estude a glória de Deus, a glória de Cristo. Estude sua alma. Conheça as glórias pelas quais você é seduzido e porque você valoriza glórias que não são a glória de Deus.

Estude a sua própria alma para saber como fazer as glórias do mundo desmoronarem como Dagom, em pedaços miseráveis, no chão dos templos do mundo (1 Samuel 5:4). Tenha fome de ver e compartilhar mais da glória de Cristo, a imagem de Deus.

FONTE: Ministério FIEL

SOLA FIDE

SOLA FIDE

SOMENTE A FÉ

Por Dr. J. V. Fesko

Em 1647, um grupo de pastores e teólogos reformados reunidos na Abadia de Westminster, em Londres, elaborou um conjunto de documentos que hoje conhecemos como os Padrões de Westminster, que incluem a Confissão de Fé, o Catecismo Maior e o Breve Catecismo. Os teólogos procuraram sistematizar o ensino reformado a fim de criar uma igreja Reformada unificada nas Ilhas Britânicas. Na pergunta e resposta 33 do Breve Catecismo, eles resumem um dos principais pilares da tradição reformada:

O que é a justificação? Justificação é um ato da livre graça de Deus, através da qual ele perdoa todos os nossos pecados e nos aceita como justos diante de si, somente pela justiça de Cristo a nós imputada e recebida pela fé somente.

Incluída nesta breve declaração está a ideia de que os pecadores são justificados sola fide – somente pela fé. Mas o que significa sola fide? Antes de mergulhar em seu significado, um pouco de contexto histórico é essencial para entender a sua importância. Uma pessoa só pode apreciar verdadeiramente uma luz brilhante contra o pano de fundo da escuridão.

Um Pano de Fundo das Trevas

Quando Martinho Lutero pregou suas Noventa e Cinco Teses na porta da Igreja do Castelo em Wittenberg, em 1517, demorou algum tempo para que as implicações da sua ação reverberassem ao longo da história. O fruto de seu trabalho emergiu em algumas confissões luteranas e reformadas, as quais afirmaram que os pecadores são declarados justos aos olhos de Deus, não com base em suas próprias boas obras, mas somente pela fé, somente em Cristo e pela graça de Deus somente – sola fide, solus Christus e sola gratia. A Igreja Católica Romana foi compelida a responder, e o fez no famoso Concílio de Trento, quando realizou uma série de pronunciamentos sobre a doutrina da justificação em sua sexta sessão, em 13 de janeiro de 1547.

Dentre os muitos pontos que Roma apresentou, vários deles reivindicações-chave, os principais foram: (1) que os pecadores são justificados pelo seu batismo, (2) que a justificação é pela fé em Cristo e pelas boas obras de uma pessoa, (3) que os pecadores não são justificados unicamente pela justiça imputada de Jesus Cristo, e (4) que uma pessoa pode perder sua posição de justificação. Todos esses pontos se fundem na seguinte declaração:

Se alguém disser que o pecador é justificado somente pela fé, ou seja, que não é necessária nenhuma outra forma de cooperação para que ele obtenha a graça da justificação e que, em nenhum sentido, é necessário que ele faça a preparação e seja eliminado por um movimento de sua própria vontade: seja anátema. (Canon IX)

A Igreja Católica Romana claramente condenou a sola fide – não confessou que os pecadores são justificados somente pela fé.

Uma Luz na Escuridão

Em contraste com esse pano de fundo, podemos apreciar como o Breve Catecismo define biblicamente a doutrina da justificação e explica o que é sola fide. Para Roma, os pecadores são justificados pela fé e obras. Sua doutrina da fé é introspectiva – uma pessoa deve olhar para dentro de suas próprias boas obras, a fim de ser justificado. O Breve Catecismo, por outro lado, argumenta que a fé é extrospectiva – os pecadores olham para fora de si, para a obra perfeita e completa de Cristo para a sua justificação. Mas o que, especificamente, os pecadores recebem somente pela fé?

O primeiro benefício da justificação é que Deus perdoa todos os nossos pecados passados, presentes e futuros. Os teólogos mencionam a citação que Paulo fez do Salmo 32: “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto” (Romanos 4:7,  Salmo 32:1). O segundo benefício da justificação é a aceitação do pecador como justo aos olhos de Deus “apenas pela justiça de Cristo imputada a nós”. Ter o status de “justo” conferido a si mesmo é bastante surpreendente. Quando um juiz declara uma pessoa inocente, isso simplesmente significa que ele não é culpado de ter quebrado a lei. Mas, se um juiz declara uma pessoa justa, significa que não somente ela é inocente de violar a lei, mas também que ela cumpriu a exigência da lei. Tomemos como exemplo o roubo. Para uma pessoa ser justa nesse caso, ela deve abster-se de roubar. Mas, além disso, ela também deve proteger os bens dos outros. Ela deve atender as demandas negativas e positivas da lei contra o roubo. Por justificação, um pecador é aceito como justo, não por uma parte da lei, mas por toda a lei – cada mandamento, cada jota e til. Ele é contado como aquele que guardou todas as dimensões de toda a lei. De onde surge essa justiça?

A justiça, ou obediência, pertence a Cristo. Os teólogos citam duas passagens-chave das Escrituras para fundamentar a imputação, ou confirmação, da justiça de Cristo para o crente. Primeiro, eles citam 2 Coríntios 5:21:“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”. De acordo com as Escrituras, Cristo era o Cordeiro imaculado, perfeito e sem pecado (1 Pedro 1:19; Hebreus 4:15). Ainda, Cristo carregou o pecado do seu povo – foi imputado a ele e ele o carregou. A maneira pela qual Cristo foi imputado com o nosso pecado para que ele pudesse suportar a maldição da lei (imputação) é a mesma maneira pela qual recebemos a perfeita obediência de Cristo – seu cumprimento de todas as exigências da lei. Os teólogos citam Romanos 5:19 para este efeito: “Porque, como pela desobediência de um só homem muitos foram constituídos pecadores, assim, pela obediência de um só homem muitos serão constituídos justos” (versão do autor). A desobediência de Adão foi imputada a todos os que estão unidos a ele, e a obediência de Cristo, o último Adão, é imputada a todos aqueles unidos a Jesus (1 Coríntios. 15:45).

Nunca os dois devem se encontrar

Se já não estiver aparente, a visão dos teólogos de Westminster sobre a justificação é diametralmente oposta à visão da Igreja Católica Romana. Para Roma, a justificação do pecador é uma tentativa de alquimia doutrinária, tentando misturar as obras de Cristo com as do crente, a fim de produzir o ouro da justificação. A teologia reformada, por outro lado, sistematizada no Breve Catecismo e refletindo o ensino das Escrituras, repousa a justificação do pecador somente sobre a obra de Cristo. O único meio pelo qual a perfeita obra de Cristo é recebida é pela fé somente – sola fide. Nós não temos outra embaixada de paz para encontrar abrigo da justa ira de Deus, a não ser na perfeita justiça e sofrimento de Cristo, e não há outra ponte entre o homem e Cristo, somente a fé.

FONTE: Ministério FIEL

SOLA GRATIA

SOLA GRATIA

SOMENTE A GRAÇA

Por Dr. Guy Prentiss Waters

“Maravilhosa Graça! Quão doce o som que salvou um miserável como eu!”; “Maravilhosa graça do nosso amado Senhor, a graça que excede o nosso pecado e a nossa culpa”. “Maravilhosa graça de Jesus, maior do que todos os meus pecados, como a minha língua deveria descrevê-lo, por onde deveria começar o seu louvor?”.

Os cristãos adoram cantar sobre a graça salvadora de Deus – e com razão. João nos diz que de Jesus “todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça” (João 1:16). Muitas das cartas do Novo Testamento começam e terminam com os escritores expressando seu desejo de que a graça de Jesus estivesse com o seu povo. As últimas palavras da Bíblia são: “A graça do Senhor Jesus seja com todos. Amém” (Apocalipse 22:21).

Os reformadores entenderam a importância da graça de Deus para o ensino bíblico sobre a salvação. De fato, um dos lemas que vieram a definir o ensino da Reforma era sola gratia, que é o latim para “somente pela graça”. Os cristãos são salvos somente pela graça de Deus.

Entre os protestantes, existe uma conhecida incompreensão e uma distorção do ensino da Igreja Católica Romana sobre a graça. Às vezes é dito: “Roma ensina que somos salvos pelas obras, mas os protestantes ensinam que somos salvos pela graça”. Esta declaração, mesmo sendo comum, é uma calúnia contra a Igreja Católica Romana. Roma não ensina que alguém é salvo pelas obras à parte da graça de Deus. Ela, de fato, ensina que uma pessoa é salva pela graça de Deus.

A que, então, Roma objetou no ensino dos reformadores? Onde está a linha que diferencia Roma da Reforma? Encontra-se em uma única palavra – sola (“somente”). Os reformadores sustentavam que o pecador é salvo pela graça de Deus, o seu favor imerecido, somente. Essa doutrina significa que nada que o pecador fizer pode trazer-lhe o mérito para obter a graça de Deus, e que o pecador não coopera com Deus, a fim de merecer a sua salvação. A salvação, do começo ao fim, é o dom soberano de Deus para os indignos e não merecedores. Conforme Paulo escreveu aos cristãos de Corinto que estavam inclinados a vangloriar-se: “Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?” (1 Coríntios. 4:7). Ninguém pode estar diante de Deus e dizer: “Olhe para mim e veja o que eu fiz!” Deus não é devedor de ninguém, nem mesmo em matéria de salvação (Romanos 11:35).

Uma passagem da Escritura na qual a doutrina da salvação somente pela graça brilha é Efésios 2:1-10. Paulo escreveu aos Efésios, depois de ter ministrado entre eles por cerca de três anos (Atos 20:31). Está claro a partir do livro de Atos dos Apóstolos que Paulo dedicou-se profundamente a pregar e ensinar a Palavra de Deus para eles (19:8-10, 20:20-21).

A carta aos Efésios nos dá um vislumbre do banquete de ensino que Paulo havia colocado diante daquela igreja. No primeiro capítulo, Paulo leva-nos para os “lugares celestiais” (1:3). Ele nos mostra o plano do Pai para salvar os pecadores através da obra de seu Filho, uma obra que é aplicada e garantida pelo Espírito. Este plano é um plano generoso – o Pai “nos abençoou em Cristo com todas as bênçãos espirituais” (v. 3). Acima de tudo, Paulo enfatiza como esse plano de redenção redunda em louvor da gloriosa graça de Deus (vv. 6, 12, 14).

Depois de uma pausa para agradecer a Deus e interceder pelos Efésios, Paulo aplica as realidades celestiais de 1:3-14 às nossas vidas cristãs individuais em 2:1-10. Ele destaca duas vezes o fato de que “pela graça sois salvos” (2:5, 8). Como é a graça de Deus evidente na salvação? Nós vemos a graça de Deus em evidência, Paulo diz, quando Deus faz com que o morto viva em Cristo. Para apreciar plenamente a graça de Deus, vamos considerar a partir de Efésios 2:1-10 o que significa estar “morto” e o que significa estar “vivo”.

Quem são os “mortos”? Os Efésios estão incluídos. (“Vocês estavam mortos em… delitos e pecados…”, v.1). Inclui Paulo e seus companheiros judeus. (“Nós todos vivíamos nas paixões da nossa carne”, v. 3). De fato, inclui todo homem, mulher e criança em Adão. (“[Nós] éramos por natureza filhos da ira, como o resto da humanidade”, v.3). A palavra “mortos” inclui pessoas como você e eu.

O que significa estar “morto”? Paulo aponta para três coisas nesta passagem. Primeiramente, isso significa estar sob condenação. Antes de Cristo, estávamos “mortos nos delitos e pecados nos quais [nós] uma vez andávamos”. Deus disse a Adão em Gênesis 2, que a morte é a penalidade para o pecado. Quando violamos a lei de Deus, nós somos culpados perante este Deus santo, e responderemos perante a sua justiça. Em segundo lugar, estar morto significa que estávamos debaixo do jugo. Servíamos a três mestres: o mundo (“seguir o curso deste mundo”, 2:2), a carne (“todos nós vivíamos segundo as paixões da nossa carne, realizando os desejos do corpo e da mente”, 2:3), e o Diabo (“seguindo o príncipe do poder do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência”, 2:2). Em terceiro lugar, estar morto significa que estávamos sob a ira. Nós “éramos por natureza filhos da ira, como o resto da humanidade” (2:3). Estávamos justamente sujeitos ao descontentamento santo de Deus por causa do nosso pecado. Éramos assim “por natureza” – em outras palavras, nascemos nessa condição.

Muitos não aceitam esse ensinamento. Fora da igreja, muitos assumem que as pessoas são basicamente boas. Elas tendem a acreditar, pelo menos implicitamente, que se dermos às pessoas uma educação adequada, os exemplos ou leis, então eles vão seguir o caminho certo. Leis justas, exemplos nobres e educação adequada são inestimáveis, mas são impotentes para mudar um coração comprometido com sua rebelião contra Deus. Dentro da igreja, muitos já disseram e ainda dizem que as pessoas estão doentes, e até mesmo desesperadamente doentes. No entanto, ainda diz-se a esses doentes que eles têm os recursos necessários para responder e cooperar com a graça de Deus. Mas Paulo não diz que estamos doentes. Ele diz que, longe de Cristo, nós estamos mortos. Espiritualmente falando, somos cadáveres no chão, sem Jesus. Não podemos nos aproximar de Deus, assim como um cadáver não pode reunir forças para sair de seu túmulo. Assim é o quão ruim estamos quando estamos longe de Cristo.

Felizmente, Paulo não termina por aí. Começando no versículo 4, Paulo se volta de nós para Deus, do mal que fizemos para o bem que Deus está fazendo em Cristo. Ele destaca três coisas sobre a graça de Deus no resto desta passagem:

Primeiro, ele nos aponta para a obra de Deus nos versículos 5-6: “Deus nos deu vida juntamente com Cristo – pela graça sois salvos – e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar com ele nos lugares celestiais em Cristo Jesus”. Deus ressuscitou Cristo dentre os mortos e o fez assentar-se à sua direita (1:18-20), e ele nos fez algo incrível em nossa união com Cristo. Deus, Paulo disse, fez os mortos viverem. Isso é o que evoca a exclamação de Paulo: “Pela graça sois salvos” (2:5).

Em segundo lugar, Paulo nos aponta para a motivação de Deus. Por que Deus fez o morto reviver? Não foi por causa de nossas obras, Paulo diz no versículo 9, nem as obras que fizemos antes de nos tornarmos cristãos, nem as obras que temos feito depois que nos tornamos cristãos. Caso contrário, poderíamos ter motivo para “nos gloriar” (v. 9). Em vez disso, Paulo diz, Deus nos deu vida por causa de sua “misericórdia”, de seu “grande amor com que nos amou” (v. 4). Paulo sai do seu caminho para incutir em nós que o próprio amor e a misericórdia de Deus são a fonte da nossa salvação.

Em terceiro lugar, Paulo nos aponta para o propósito de Deus. Com que propósito Deus fez o morto reviver? Paulo diz no versículo 7, foi para que possamos colocar em exposição, tanto agora como na eternidade, as “riquezas imensuráveis ??da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus”. Como podemos fazer isso? Através da exposição em nossas vidas da obra prima de nosso Criador e Redentor – fomos “criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (v. 10).

Nós somos salvos, então, sola gratia – somente pela graça de Deus. Longe de levar-nos a abraçar uma vida de libertinagem e imprudência moral, a graça de Deus no evangelho nos leva a buscarmos uma vida de consagração e santidade. Por que isso acontece? O grande compositor de hinos, Isaac Watts, capturou bem o ponto de Paulo quando escreveu em seu hino “Quando eu vejo a maravilhosa cruz”: “Se toda a criação me pertencesse, ainda assim seria um presente muito pequeno, se comparado ao amor tão incrível, tão divino, que exigiria a minha alma, a minha vida, o meu tudo”. Pense nisso da próxima vez que cantar sobre a graça de Deus.

FONTE: Ministério FIEL

SOLUS CHRISTUS

SOLUS CHRISTUS

SOMENTE CRISTO

Por Joel R. Beeke

A teologia reformada afirma que a Escritura e sua doutrina sobre a graça e fé enfatizam que a salvação é solus Christus, “somente por Cristo”, isto é, Cristo é o único Salvador (Atos 4:12). B.B. Warfield escreveu: “O poder salvador da fé reside, portanto, não em si mesma, mas repousa no Salvador Todo Poderoso”.

A centralidade de Cristo é o fundamento da fé protestante. Martinho Lutero disse que Jesus Cristo é o “centro e a circunferência da Bíblia” — isso significa que quem ele é e o que ele fez em sua morte e ressurreição são o conteúdo fundamental da Escritura. Ulrich Zwingli disse: “Cristo é o Cabeça de todos os crentes, os quais são o seu corpo e, sem ele, o corpo está morto”.

Sem Cristo, nada podemos fazer; nele, podemos fazer todas as coisas (João 15:5; Filipenses 4:13). Somente Cristo pode trazer salvação. Paulo deixa claro em Romanos 1-2 que, embora haja uma auto-manifestação de Deus além da sua obra salvadora em Cristo, nenhuma porção de teologia natural pode unir Deus e o homem. A união com Cristo é o único caminho da salvação.

Nós precisamos urgentemente ouvir solus Christus em nossos dias de teologia pluralista. Muitas pessoas hoje questionam a crença de que a salvação é somente pela fé em Cristo. Como Carl Braaten diz, eles “estão voltando à velha e falida forma de abordagem cristológica do século XIX, do liberalismo protestante, e chamando-a de “nova”, quando, na verdade, é pouco mais que uma “Jesusologia superficial”. O resultado final é que, atualmente, muitas pessoas, como H.R. Niebuhr disse em sua famosa frase a respeito do liberalismo — proclamam e adoram “um  Deus sem ira, o qual trouxe homens sem pecado para um reino sem julgamento por meio de ministrações de um Cristo sem a cruz”.

Nossos antepassados reformados, aproveitando uma perspectiva que rastreia todo o caminho de volta aos escritos de Eusébio de Cesaréia, no século IV, acharam útil pensar a respeito de Cristo como Profeta, Sacerdote e Rei. A Confissão Batista de Londres de 1689, por exemplo, coloca isso da seguinte forma: “Cristo, e somente Cristo, está apto a ser o mediador entre Deus e o homem. Ele é o profeta, sacerdote e rei da igreja de Deus” (8.9). Observemos mais detalhadamente esses três ofícios.

Cristo, o Profeta

Cristo é o Profeta que precisamos para nos instruir nas coisas de Deus, a fim de curar a nossa cegueira e ignorância. O Catecismo de Heidelberg o chama de “nosso principal Profeta e Mestre, que nos revelou totalmente o conselho secreto e a vontade de Deus a respeito da nossa redenção” (P. 31). “O Senhor, teu Deus”, Moisés declarou em Deuteronômio 18:15, “te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás”. Ele é o Filho de Deus, e Deus exige que nós o escutemos (Mateus 17:5).

Como o Profeta, Jesus é o único que pode revelar o que Deus tem planejado na história “desde a fundação do mundo”, e que pode ensinar e manifestar o real significado das “escrituras dos profetas” (o Antigo Testamento, ver Romanos 16:25-26). Podemos esperar progredir em nossa vida cristã apenas se dermos ouvidos à sua instrução e ensino.

Cristo, o Sacerdote

Cristo é também o Sacerdote—nosso extremamente necessário Sumo Sacerdote que, como diz o Catecismo de Heidelberg: pelo sacrifício de Seu corpo, nos redimiu, e faz contínua intercessão junto ao Pai por nós” (P. 31). Nas palavras da Confissão Batista de Londres de 1689 “por causa do nosso afastamento de Deus e da imperfeição de nossos melhores serviços, precisamos de seu ofício sacerdotal para nos reconciliar com Deus e nos tornar aceitáveis por ele” (8.10).

A salvação está somente em Jesus Cristo, porque há duas condições que, não importa o quanto nos esforcemos, nunca poderemos satisfazer. No entanto, elas devem ser cumpridas se estamos para ser salvos. A primeira é satisfazer a justiça de Deus pela obediência à lei. A segunda é pagar o preço de nossos pecados. Nós não podemos cumprir nenhuma dessas condições, mas Cristo as cumpriu perfeitamente. Romanos 5:19 diz: “por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”. Romanos 5:10 diz: “nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho”. Não há outra maneira de entrar na presença de Deus a não ser por meio de Cristo somente.

O sacrifício de Jesus ocorreu apenas uma vez, mas ele ainda continua sendo nosso grande Sumo Sacerdote, aquele através do qual toda a oração e louvor são feitos aceitáveis a Deus. Nos lugares celestiais, ele continua sendo nosso constante Intercessor e Advogado (Romanos 8:34; 1 João 2:1). Não é de se admirar, então, que Paulo diz que a glória deve ser dada a Deus “por meio de Jesus Cristo pelos séculos dos séculos” (Romanos 16:27). O gozo de achegarmo-nos a Deus pode crescer apenas por uma confiança profunda nele como nosso sacrifício e intercessor.

Cristo, o Rei

Finalmente, Cristo é o Rei, que reina sobre todas as coisas. Ele reina sobre sua Igreja por meio de seu Espírito Santo (Atos 2:30-33). Ele soberanamente dá o arrependimento ao impenitente e concede perdão ao culpado (Atos 5:31). Cristo é “o nosso Rei eterno que nos governa por sua Palavra e Espírito, e que defende e preserva-nos no gozo da salvação que ele adquiriu para nós” (O Catecismo de Heidelberg, P&R.31). Como o Herdeiro real da nova criação, ele nos levará a um reino de eterna luz e amor.

Neste sentido, podemos concordar com João Calvino quando ele diz: “Nós podemos passar pacientemente por esta vida com sua miséria, frieza, desprezo, injúrias e outros problemas—satisfeitos com uma coisa: que o nosso Rei nunca nos deixará desamparados, mas suprirá as nossas necessidades, até que, ao terminar nossa luta, sejamos chamados para o triunfo”. Podemos crescer na vida cristã apenas se vivermos obedientemente sob o domínio de Cristo e pelo seu poder.

Se você é um filho de Deus, Cristo em seu tríplice ofício como Profeta, Sacerdote e Rei significará tudo para você. Você ama solus Christus? Você o ama em sua pessoa, ofícios, naturezas e benefícios? Ele é o seu Profeta para ensinar-lhe; o seu Sacerdote para sacrificar e interceder por você e lhe abençoar, e o seu Rei para governá-lo e guiá-lo?

Depois de uma execução empolgante da Nona Sinfonia de Beethoven, o famoso maestro italiano Arturo Toscanini disse à orquestra: “Eu não sou nada. Você não é nada. Beethoven é tudo”. Se Toscanini pode dizer isso sobre um compositor brilhante, mas que está morto, quanto mais os cristãos devem dizer o mesmo sobre o Salvador que vive, o qual, no que diz respeito à nossa salvação, é o compositor, músico e até mesmo a própria bela música.

FONTE: Ministério FIEL

SOLA SCRIPTURA

SOLA SCRIPTURA

SOMENTE A ESCRITURA

Por Rev. Augustus Nicodemus Lopes

Aproveitando que o aniversário da Reforma está aí (31 de outubro de 1517), seria bom lembrar um dos seus pilares, o conceito de Sola Scriptura, “Somente a Escritura”.

Se quisermos achar um evento que sirva como marco histórico para a origem do conceito, a resposta de Lutero na Dieta de Worms (1521) imediatamente vem à mente. Ao ser perguntado, pela segunda vez, se iria se retratar de suas posições expressas nas 95 teses, ele respondeu: “A menos que eu seja convencido pelas Escrituras e pela razão pura e já que não aceito a autoridade do papa e dos concílios, pois eles se contradizem mutuamente, minha consciência é cativa da Palavra de Deus. Eu não posso e não vou me retratar de nada, pois não é seguro nem certo ir contra a consciência. Deus me ajude. Amém.”

Em outras palavras, Lutero declarou que só aceitaria o que pudesse ser provado pelas Escrituras: “Sola Scriptura”. Aceitando somente a Escritura, Lutero deduziu que a salvação era somente pela graça (sola gratia), somente pela fé (sola fide) na pessoa e obra de Cristo (solus Christus), redundando em glória somente a Deus (soli Deo gloria), divergindo, assim, do que era ensinado na sua época e que era baseado na tradição, bulas e declarações de concílios. Como a venda de indulgências, por exemplo. Em outras palavras, o conceito de Sola Scriptura é fundamental para o edifício da teologia da Reforma.

Mas, esclareçamos. Como cristão reformado, quando eu uso a expressão Sola Scriptura não estou negando que a Palavra de Deus, a princípio, foi transmitida oralmente, antes de ser escriturada. Também não estou negando que Deus se revelou à humanidade na natureza, por meio das coisas criadas (revelação geral, embora não salvífica) e nem estou reduzindo a atividade do Espírito Santo nos crentes ao momento de leitura da Bíblia. Nem nego a necessidade de pastores, mestres e evangelistas. Eu também não estou dizendo que a Bíblia é sempre clara em todas as suas partes e menos ainda que ela é exaustiva.

Quando os cristãos reformados declaram “Sola Scriptura!” eles estão dizendo fundamentalmente que a palavra que Deus falou através dos séculos através de pessoas que ele escolheu e inspirou, na qual Ele se revelou e revelou sua vontade para seu povo, se encontra agora somente nas Escrituras Sagradas, e em nenhum outro lugar. Esta revelação escrita é suficientemente clara em matérias pertinentes à salvação e santificação do povo de Deus e suficiente para que se conheça a Deus e a sua vontade

Em outras palavras, Sola Scriptura significa que a única regra de fé e prática para os cristãos são as Escrituras Sagradas do Antigo e do Novo Testamento, pela simples razão de que elas, e somente elas, são inspiradas por Deus. A tradição oral, os pronunciamentos dos concílios e líderes religiosos e as opiniões de teólogos não são. Eles podem ser úteis em nossa compreensão das Escrituras e das origens do Cristianismo, bem como nas aplicações de seus princípios às questões de nossos dias, quando não contradizem as Escrituras. Contudo, nenhum deles é a base e o fundamento para minha fé e as minhas práticas. Assim, eu não tenho nenhum problema em aceitar uma tradição oral desde que se possa demonstrar que ela tem origem no ensino dos apóstolos. Da mesma forma, aceito os ensinos dos Pais da Igreja que comprovadamente estão de acordo com os escritos do Novo Testamento.

Da mesma maneira, “revelações” e “profecias” que pretendem adicionar alguma coisa à Escritura, ou que a contradizem, são, como disse Jeremias, meros sonhos e ilusões de profetas que não têm o Espírito de Deus (Jer 23:9-40), pois “o testemunho de Jesus é o espírito da profecia” (Ap 19.10).

É claro que não vamos encontrar o slogan Sola Scriptura na Bíblia, pelo menos não como uma frase ou declaração. Mas existem evidências claras o suficiente para aceitarmos que, ao dizer que sua consciência estava cativa somente à palavra de Deus, Lutero estava expressando um princípio amplamente exposto nas Escrituras. Para quem quiser depois consulta-los, acredito que os textos abaixo deixam claro que já há nas próprias Escrituras uma compreensão de que elas são inspiradas por Deus e que nelas Deus fala de maneira autoritativa e suficiente para seu povo:

Jo 5.24; Jo 20.30-31; 2Pe 1.20-21; 2Tm 3.14-17; 1Co 14.37-38; 1Ts 4.8; 2Ts 3.14; 2Pe 3.15-16; Sl 19.7-9; Is 8.19-20; Jo 10.35; Rm 15.4; Hb 4.12; Ap. 22.18-19.

Há outras, mas estas bastam para mostrar que: (1) há uma clara consciência do conceito de Escritura como sendo o meio pelo qual Deus fala; (2) as Escrituras são consideradas, portanto, como a autoridade final nas coisas concernentes a Deus e nossa relação com ele e com os outros; (3) que nenhuma outra fonte de autoridade pode ser colocada ao lado das Escrituras.

É em passagens assim que os cristãos reformados se baseiam para dizer que é somente nas Escrituras que Deus nos fala de maneira autoritativa e final. E portanto, nossa consciência está cativa somente a elas. Enfim, Sola Scriptura.

FONTE: Igreja Presbiteriana do Brasil

SETE GLORIOSAS VERDADES SOBRE DEUS

SETE GLORIOSAS VERDADES SOBRE DEUS

Por John Piper¹

“No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. As bases do limiar se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça” (Is 6.1-4).

1. Deus está vivo

Primeiro, ele está vivo. No ano em que o rei Uzias morreu. Uzias está morto, mas Deus continua vivo. “De eternidade a eternidade, tu és Deus” (Salmos 90.2). Deus era o Deus vivo quando este universo passou a existir. Ele era o Deus vivo quando Sócrates bebeu veneno. Ele era o Deus vivo quando William Bradford governou a Colônia de Plymouth. Ele era o Deus vivo em 1966, quando Thomas Altizer proclamou sua morte e a revista Time estampou isso na sua capa. E ele será o Deus vivo daqui a dez trilhões de anos, quando todos os insignificantes disparos contra sua realidade tiverem caído no esquecimento, como tiros de espoleta no fundo do Oceano Pacífico.

“No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor”. Não há um único chefe de Estado em todo o mundo que ainda estará lá daqui a cinquenta anos. A rotatividade na liderança mundial é de 100%. Mas não é assim com Deus. Ele nunca teve um começo e, portanto, não depende de nada para sua existência. Ele sempre foi e sempre estará vivo.

2. Deus possui autoridade

Em segundo lugar, ele possui autoridade. “Eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono”. Nenhuma visão do céu jamais contemplou Deus arando um campo, cortando grama, engraxando sapatos, preenchendo relatórios ou carregando um caminhão. O céu não está desmoronando pela falta de cuidado. Deus nunca verá o fim de seu reino celestial. Ele se assenta. E ele se assenta em um trono. Tudo está em paz e ele tem controle.

O trono é o seu direito de governar o mundo. Não damos autoridade a Deus sobre nossas vidas. Ele a tem, quer gostemos ou não disso. Que total loucura é agir como se tivéssemos qualquer direito de colocar Deus em questão! Precisamos ouvir, de vez em quando, palavras como as que Virginia Stem Owens disse no Reformed Journal:

Vamos esclarecer uma coisa. Deus pode fazer tudo o que bem entender, com todas as coisas. E se algo lhe agrada, então é feito, ipso facto, bem. A atividade de Deus é o que é. Não há mais nada. Sem isso, não haveria seres, incluindo seres humanos que presumem julgar o Criador de tudo o que existe.
Poucas coisas são mais humilhantes, poucas coisas nos dão aquele senso de majestade pura, quanto a verdade que Deus tem absoluta autoridade. Ele é o Supremo Tribunal, o Legislativo e o Chefe do Executivo. Depois dele, não há recursos.

3. Deus é onipotente

Terceiro, Deus é onipotente. O trono de sua autoridade não é um entre muitos. É alto e sublime. “Eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono”. O trono de Deus ser mais alto que qualquer outro trono indica o poder superior de Deus para exercer a sua autoridade. Nenhuma autoridade oposta pode anular os decretos de Deus. O que ele propõe, ele realiza. “O meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (Is 46.10). “Segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4.35). E essa autoridade soberana do Deus vivo é um refúgio repleto de alegria e poder para aqueles que guardam o seu pacto.

4. Deus é resplandecente

Quarto, Deus é resplandecente. “Eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo”. Você já viu fotos de noivas cujos vestidos são colocados em volta delas cobrindo os degraus e a plataforma. Qual seria o significado se a cauda preenchesse os corredores e cobrisse os assentos e o coral, como um tecido de uma peça só? O manto de Deus preencher todo o templo celestial significa que ele é um Deus de incomparável esplendor. A plenitude do esplendor de Deus se mostra de mil maneiras.

Eu costumava ler Ranger Rick. Lembro-me de um artigo sobre espécies de peixes que vivem no fundo do mar escuro e têm suas próprias luzes — algumas têm espécies de lâmpadas penduradas em seus queixos, algumas têm narizes luminescentes, algumas têm faróis sob os olhos. Existem milhares de peixes com luz própria que vivem nas profundezas do oceano, onde nenhum de nós pode vê-los e se maravilhar. Eles são espetacularmente estranhos e belos. Por que eles estão lá? Por que não há apenas uma dúzia de tipos simples e eficazes? Porque Deus é exuberante em esplendor. A sua plenitude criativa transborda em beleza excessiva. E se o mundo é assim, quanto mais resplandecente deve ser o Senhor que o imaginou e o fez!

5. Deus é reverenciado

Quinto, Deus é reverenciado. “Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava”. Ninguém sabe o que são essas estranhas criaturas de seis asas com pés, olhos e inteligência. Eles nunca mais aparecem na Bíblia — pelo menos não sob o nome de serafins. Dada a grandeza da visão e o poder das hostes angelicais, será melhor não imaginarmos bebês gordinhos e com asas voando diante do Senhor. De acordo com o versículo 4, quando um deles fala, os alicerces do templo tremem. Faríamos melhor se pensássemos nos Blue Angels — aqueles quatro jatos que voam em formação — voando diante da comitiva presidencial e rompendo a barreira do som bem diante de seu rosto. Não há criaturas insignificantes ou bobas no céu. Apenas seres magníficos.

E o ponto é: Nem mesmo eles conseguem olhar para o Senhor, nem se sentem dignos de deixar os seus pés expostos diante da presença dele. Grandiosos e bons como são, incontaminados pelo pecado humano, reverenciam o seu Criador com grande humildade. Um anjo atemoriza um homem com seu resplendor e poder. Mas os próprios anjos se escondem em santo temor e reverência diante do esplendor de Deus. Ele é continuamente reverenciado.

6. Deus é santo

Sexto, Deus é santo. “E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos”. A linguagem força os seus limites de utilidade aqui. O esforço para definir a santidade de Deus acaba por dizer: Deus ser santo significa que Deus é Deus.

Permita-me fazer uma ilustração. A raiz do significado de santo é provavelmente “ser cortado” ou “separado”. Algo santo é cortado e separado do uso comum (poderíamos dizer: secular). As coisas e pessoas terrenas são santas quando são separadas do mundo e dedicadas a Deus. Assim, a Bíblia fala sobre a terra santa (Êx 3.5), assembleias santas (Êx 12.16), sábados santos (Êx 16.23), uma nação santa (Êx 19.6), vestes santas (Êx 28.2) uma cidade santa (Ne 11.1), promessas santas (Sl 105.42), homens santos (2Pe 1.21) e mulheres santas (1Pe 3.5), escrituras santas (2Tm 3.15), mãos santas (1Tm 2.8), beijo santo (Rm 16.16) e uma fé santa (Jd 1.20). Quase tudo pode se tornar santo se for separado do uso comum e dedicado a Deus.

Porém, observe o que ocorre quando essa definição é aplicada ao próprio Deus. Do que você pode separar Deus para torná-lo santo? A própria divindade de Deus significa que ele é separado de tudo o que não é Deus. Existe uma diferença qualitativa infinita entre Criador e criatura. Deus é único. Sui generis. Ele é distinto. Nesse sentido, ele é totalmente santo. Mas, então, você não disse mais do que ele ser Deus.

Ou, se a santidade de um homem deriva de estar separado do mundo e dedicado a Deus, a quem Deus se dedica para obter a sua santidade? A ninguém além de si mesmo. É uma blasfêmia dizer que existe uma realidade superior a Deus à qual ele deve se conformar para ser santo. Deus é a realidade absoluta, além da qual há apenas mais de Deus. Quando perguntado sobre seu nome em Êxodo 3.14, ele disse: “EU SOU O QUE SOU”. Seu ser e seu caráter são totalmente indeterminados por qualquer coisa fora dele mesmo. Deus não é santo porque observa as regras. Ele escreveu as regras! Deus não é santo porque ele guarda a lei. A lei é santa porque revela Deus. Deus é absoluto.

Todo o restante é derivado.

Então, o que é a sua santidade? É o seu valor infinito. A sua santidade é a sua essência divina absolutamente única, que em sua singularidade tem valor infinito. Ela determina tudo o que ele é e faz, e não é determinada por ninguém. A sua santidade é o que ele é como Deus, o que ninguém mais é ou jamais será. Chame isso de sua majestade, sua divindade, sua grandeza, o seu valor como a pérola de grande valor.

Por fim, a linguagem se esgota. Na palavra “santo”, navegamos para o fim do mundo no silêncio absoluto de reverência, maravilha e assombro. Ainda pode haver mais para conhecer sobre Deus, mas isso estará além das palavras. “O SENHOR, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra” (Hc 2.20).

7. Deus é glorioso

Mas antes do silêncio, do tremor das bases e da fumaça que tudo oculta, aprendemos uma sétima e última coisa a respeito de Deus. Deus é glorioso. “Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória”.

A glória de Deus é a manifestação da sua santidade. A santidade de Deus é a perfeição incomparável da sua natureza divina; a sua glória é a exibição dessa santidade. “Deus é glorioso” significa que a santidade de Deus se tornou pública. A glória de Deus é a revelação clara do segredo de sua santidade. Em Levítico 10.3, Deus diz: “Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado…”. Quando Deus se revela santo, o que vemos é a glória. A santidade de Deus é a sua glória oculta. A glória de Deus é a sua santidade revelada.

Fonte: MinistérioFIEL

¹Sobre John Piper: John Piper é doutor em Teologia pela Universidade de Munique e fundador do desiringGod.org e chanceler no Bethlehem College & Seminary. Ele serviu por 33 anos como pastor principal da Bethlehem Baptist Church em Minneapolis, Minnesota. Piper é autor de diversos livros, incluindo Uma Glória Peculiar, Lendo a Bíblia de Modo Sobrenatural e Surpreendido por Deus, publicados pela Editora Fiel.

BUSQUE O SENHOR

BUSQUE O SENHOR

Ev. Rodrigo Gonçalez

Escuta, Senhor, a minha oração e atende à voz das minhas súplicas.
No dia da minha angústia, clamo a ti, porque me respondes.

Salmos 86.6,7

Deus está presente, tanto nos melhores momentos, quando nos esquecemos dEle, como também e principalmente nas nossas mais dolorosas experiências. Geralmente, quando está tudo bem conosco, não parece que o cuidado de um Deus tão presente seja, assim, muito necessário. Porém, quando as coisas começam a piorar, de repente, parece que Ele, então, se aproxima.

Mas, isso é apenas uma impressão pecaminosa e falsa, que é nossa. Deus está sempre presente! Mesmo quando nossas falsas percepções dizem o contrário, sob qualquer circunstância. O nosso Deus é Emanuel, o “Deus dentro do barro”, o “Deus conosco”. Deus não abandonou a sua criação, como muitos imaginam; nem a deixou navegar ao léu, pelos mares revoltosos da vida. Como o apóstolo Paulo afirma: “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Co 3.16). E novamente, ele diz: “não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus”? (1 Co 6.19).

Ele está aqui; Ele está próximo. Ele vê a sua dor, o seu desânimo e a sua frustração. Você é habitação de Deus. Por isso, ore; busque-O; implore a sua ajuda! O salmista nos ensina que, no dia da angústia, Ele responde, Ele atende as nossas orações! Ainda que estas sejam fracas, balbuciantes, inexpressivas. Não importa. O Deus que ouve a sua oração é o Deus que inspira a sua oração.

O Senhor Jesus nos ensinou: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á” (Mt 7.7,8). Como diz uma oração dos puritanos: “Em oração todas as minhas preocupações seculares, medos e angústias desaparecem, e são de tão pouca importância, como um sopro”.

Então, o que você está esperando? Busque o Senhor! Amém.

ENCONTRANDO ESPERANÇA NA PALAVRA EM MEIO AO LUTO

ENCONTRANDO ESPERANÇA NA PALAVRA EM MEIO AO LUTO

Rev. Héber Campos Jr.¹

Texto base: Salmo 73

Estamos vivendo um tempo diferente do usual, um momento de pandemia que trouxe consigo muitas mortes. Antigamente, era comum perder filhos que não chegavam à vida adulta, ou perder pessoas muito cedo. Se nossos antepassados sempre experimentaram mortes, hoje entendemos que o padrão é viver por muito tempo. Nossa mentalidade mudou com o tempo. Fomos enganados a confiar excessivamente na capacidade da medicina e da tecnologia de curar nossos males. Contudo, a realidade da morte está mais próxima do que vimos anteriormente.

O que é mais revelador na pandemia não é a morte ser real, mas a maneira como temos reagido às instabilidades. A pandemia revelou nossos temores, fraquezas e pecados que não estávamos habituados a enxergar. Analisemos, então, nossas fragilidades e nossa resposta às instabilidades que levam nosso coração a fraquejar. O Salmo 73 é importante nesse contexto. Ele revela nossos pecados e fraquezas que estão dentro de nós.

Primeiro de tudo, é preciso destacar a importância de termos consciência da nossa leitura da vida, da nossa cosmovisão e de como ela é reveladora. Parte de nossas perturbações se deve a perdermos de vista nosso destino final. Não tem a ver com o outro, mas com você e comigo. Independentemente da qualidade da teologia, funcionalmente falando, as pessoas vivem a vida sem o senso de chegada. Por isso temos tanta dificuldade para enfrentar certos problemas.

Sempre buscamos solução e descanso presente. Nunca falamos da ressurreição no último dia ao aconselhar. Não estamos acostumados a falar do porvir como nosso descanso presente. Não conseguimos encorajar as pessoas como Paulo o faz em 1 Coríntios 15, quando ele disse que, se nossa esperança se limita a essa vida, somos os mais infelizes de todos os homens. O Salmo 73 mostra a falência de oferecer consolo apenas com base no alívio presente. Frases simplistas como “Fica tranquilo, Deus está no controle” não percebem a complexidade da luta contra os problemas dessa vida. Apesar de ser verdadeiro, isso não revela os enganos sutis nem a solução bíblica para a aflição.

O Salmo 73 é o primeiro salmo do Livro III, o qual trata de muitos episódios negativos e tristes. A mensagem predominante é que o povo de Deus está sendo vencido, mas não que o povo esteja abandonado, mas para que acordem para o fato de não viverem longe de Deus.

Nosso foco revela nossa cosmovisão. Somos pessoas que com frequência oferecemos consolo presente. Por vezes definimos a vida abundante como uma experiência satisfatória em que tudo vai bem no presente. O problema está no controle que o desejo exerce sobre nós. Esperamos que tudo vá bem e nos frustramos quando isso não acontece. Esses desejos revelam como essa expectativa controla nosso coração. Mas esquecemos que a realidade eterna é real. Perdemos a eternidade de vista porque nos prendemos demais ao terreno.

Asafe havia perdido isso de vista (Sl 73.3-5, 12). Ele se preocupara com realidades visíveis e presentes. Por isso, ele acabou tirando conclusões baseadas no que vemos neste mundo. Temos certas expectativas que, embora nem sempre conscientes, nos fazem esperar certas coisas dadas como certas. O coração é nutrido de expectativas que nos frustram, pois a cosmovisão foi marcada por utopias. Mas nossas angústias não são fatos, e sim nossas interpretações. É preciso atentar para o fato de que nosso foco norteia nossa visão e nossas expectativas.

Quando lidamos com quem sofre, não devemos ser insensíveis; dores são resultados de causas reais. Mas os maiores problemas não são externos, não estão lá fora. Precisamos voltar nossa análise para o aspecto interno, para dentro de nós mesmos. Pensamentos, motivações e desejos devem ser descobertos.

Quais são os sintomas de que nosso foco está errado? Inveja (73.3), um pecado difícil de reconhecer, mas precisamos da graça de Deus para admitir que muitas vezes sentimos inveja. Em geral, não invejamos quem é muito diferente, mas quem é semelhante a nós, mas apenas um pouco melhor, ou que recebeu algo melhor. Achamos o sucesso daquela pessoa injusto. O salmista não inveja o sucesso de Davi, por exemplo, mas os maus, aqueles que não amam ao Senhor. A inveja trabalha mediante um senso de injustiça.

Um segundo sintoma: confusão (73.16). Ele não consegue entender o que Deus está fazendo. Em geral, confusão é sinônimo de que nosso coração não tem descanso. Elas não são difíceis num plano intelectual; são difíceis de engolir. Nossa aflição não é intelectual, mas porque estamos sofrendo. Como conciliar o sofrimento com a ideia de que Deus é bom?

Terceiro sintoma: desânimo (73.13-14), abatimento. A vida devocional esfria, a frequência nos cultos evapora. Por fim, amargura (73.21), a qual nem sempre é fácil de detectar e admitir. Há amarguras que são públicas, que são expressadas em murmuração. Algumas, entretanto, são veladas (73.15). É como se ninguém desconfiasse da amargura de Asafe. Por vezes temos receio de contar a alguém o que sentimos.

Esses são sintomas de que nosso foco está errado. Acabamos fazendo um juízo soberbo com relação aos outros, chamando-os de soberbos e violentos (73.6), invejosos e insatisfeitos (73.7), escarnecedores e maliciosos (73.8), irreverentes (73.9), promovem discípulos inconsequentes, pois as pessoas os seguem (73.10-11). Asafe está inconformado. Mas essa avaliação também é soberba, pois ela parte de justiça própria. Aqui o salmo é revelador: ele não profere mentiras. Os ímpios são tudo isso, mas Asafe não enxerga que essa leitura alimenta um coração que se julga melhor do que eles, que também cobiça, usa a língua indevidamente, etc. Asafe julgou que sua espiritualidade foi uma perda de tempo, e isso revela suas crenças. A conclusão de que Deus não é bom está enraizada nos desejos por coisas desse mundo. Isso é idolatria e determina nossas conclusões sobre a vida.

Mas como Deus muda nosso foco para não nos abatermos tanto com esse mundo? Diferente do que as pessoas pensam, a realidade do porvir é muito prática para nossos problemas presentes. Asafe tem um momento de descoberta (73.17), quando o tom do salmo muda. Quando ele entra na casa do Senhor, ele percebe o que Deus fará com os que não o temem. Há reviravolta de pensamento. Ele percebe a instabilidade (73.18) e a fugacidade de suas vidas (73.20). Tudo que ele almejava é passageiro.

Ele finalmente entendeu. Piedade é resultado da compreensão da verdade. Elas não se separam. Asafe mudou quando a teologia ficou clara, sendo lembrado do valor da segurança (73.23), sucesso (73.24), alegria (73.25) e riqueza em Deus (73.26). Deus não lhe dá o que ele queria em sua idolatria; foi seu foco que mudou. O amor por Deus lhe deu satisfação e fez de Deus sua prosperidade. Ele termina o salmo (73.27-28) de forma inteiramente diferente. Seu foco passou a ser a vida por vir. Este salmo avisa de que, se negligenciarmos o eterno peso de glória, podemos nos perder.

Eis algumas lições para encararmos as tristezas e dificuldades que são reais.

  1. Temos que aprender a perseverar entre o já e o ainda não. Realidades eternas não apenas vão acontecer, mas parte do porvir já começou. O fato de já termos a eternidade deve ser tremendamente encorajador. O Reino ainda não foi consumado, mas ele já é real. Cristo já tem toda a autoridade sobre todas as coisas.
  2. Sofrimento e caráter não são proporcionais. O mundo não recompensa de acordo com o caráter. Ser crente não implica vida tranquila. Nosso coração não o aceita facilmente, a não ser que temos uma noção do porvir. Justiça divina vai ser feita.
  3. É incrível estar com Deus quando a morte bate à porta. Podemos entender que mesmo morte prematura é benção para o fiel (73.24).

Não se indigne com a morte como o mundo o faz. É verdade que a morte não é natural, mas para nós morrer é lucro. Por isso faz sentido que nossos cultos fúnebres sejam recheados de alegria; mesmo em meio ao choro, podemos encontrar consolo e esperança. Lidaremos muito melhor com as tristezas da vida se nosso coração estiver firme na eternidade, quando experimentaremos o doce consolo do Deus de toda a consolação.

Fonte: VoltemosaoEvangelho.com

¹ Heber De Campos Jr. é bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano JMC. Mestre em História da Igreja pelo CPAJ – Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper e Doutor em Teologia Histórica pelo Calvin Theological Seminary.

EM PAZ EM MEIO A GUERRA

EM PAZ EM MEIO A GUERRA

Rev. Pedro Felippe

Pra quem me conhece um pouco sabe que eu gosto muito de chegar mais cedo na igreja e cumprimentar, se possível, todos no templo. Acho salutar. No entanto, sempre que vou cumprimentar um determinado membro da nossa igreja, perguntando se está tudo bem a resposta sempre me surpreende positivamente e, de certa forma, me impacta. A resposta é simples, mas profunda. Ele diz que está em paz em meio a guerra.

Hoje até acostumei e uso muitas vezes essa frase, mas me lembro perfeitamente quando a ouvi desse determinado irmão. Meu senso de piedade foi abalado porque sei que pra mim, particularmente falando, falta paz até mesmo em momentos de calmaria, imagina nos momentos de “guerra”?

Pois bem, ter paz em meio a guerra é algo que somente pessoas que compreendem a respeito da soberania de Deus consegue sentir. Mormente os sentimentos que circulam nosso coração em meio a ambientes hostis são ligados à vigilância e temor isso sempre num estado de alerta, pois como alguém pode ficar em paz numa guerra?

A resposta para essa pergunta está nas palavras de Jesus: “No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33).

Podemos até achar que essa parte do verso não tem nada a ver com paz, mas o início dele está escrito: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim” (Jo 16.33).

Estamos num contexto de despedida aonde Jesus está anunciando a descida do Espírito Santo, e a expressão “estas coisas vos tenho dito” está se remetendo justamente à consolação vindoura.

Ter paz é saber que mesmo em meio ao mundo de aflição, confusão, insegurança, em meio a guerra temos o poder do Espírito Santo que nos faz ter tranquilidade e sabedoria para ultrapassar as barreiras por mais intransponíveis que pareçam.

Talvez você, assim como eu, tem vivido uma guerra que atormenta sua alma a tal ponto de você pensar que não existe paz, mas preciso contrariá-lo (a). Se o Espírito do Senhor reside em seu coração, “deixe-o” trabalhar. Tranquilize sua alma aflita, tenha paz mesmo que tudo esteja desmoronando. Mas se você ainda não tem essa convicção de que você é morada do Espírito, é momento de se “entregar” para ele. Abandone o medo, venha para um lugar de paz, para os braços envolventes do Espírito Santo.